O papel da opinião pública na formulação e condução da política externa dos países é tema de amplo debate. Para os mais céticos, a opinião pública joga um papel marginal, senão complemente inexpressivo, em política externa. O pano de fundo desta vertente é que o cidadão comum, o eleitor mediano, não é capaz de formular opinião consistente e coerente sobre este tema complexo e distante da realidade do dia-a-dia. Face a esta realidade, não há por que o governante levar em consideração a opinião do eleitor mediano em política externa sob a pena de produzir equívocas graves de formulação. No campo oposto estão os mais otimistas, para os quais a política externa não se distingue das demais políticas públicas. Assim sendo, a preocupação dos governantes em entender o que pensa o eleitor mediano tem a ver com suas aspirações eleitorais.
Esta edição do Análise Caeni é um número especial sobre relação entre política externa e opinião pública. Contudo, ao invés de tratar o tema sob o ângulo teórico, este Análise procura mapear a opinião pública dos países pertencentes ao BRICS sobre política externa e relações internacionais. A proposta foi a de compilar, por meio de fontes secundárias e pesquisas previamente realizadas, a percepção da opinião pública desses países em diferentes níveis: auto-percepção (auto-imagem); percepção sobre o Brasil; percepção sobre os arranjos BRICS e IBAS e percepções sobre regimes/organizações internacionais. Adicionalmente foi incluído a percepção da opinião pública norte-americana sobre BRICS.
Como se pode ver pelo conjunto de textos que seguem, há uma grande heterogeneidade quanto a disponibilidade de pesquisas de opinião e política externa em cada um dos países analisados. Ainda assim, foi possível formar um quadro abrangente e original sobre o BRICS na ótica da opinião pública. Esperamos que este número especial possa contribuir na agenda de pesquisa tanto em opinião pública e política externa quanto e relações Sul-Sul.
Boa leitura!
Amâncio Jorge de Oliveira e Janina Onuki.