Por João Pedro Malar. Publicado em 13/06/2019, na AUN.
Em 2017, na Jordânia, foi inaugurado o laboratório do projeto Sesame (Luz Síncrotron para Ciência Experimental e Aplicações no Oriente Médio), que reuniu nove países do Oriente Médio, a maioria com tensões diplomáticas, visando uma aproximação cultural e diplomática por meio da cooperação científica. O projeto tornou-se, assim, um dos maiores exemplos da chamada diplomacia científica.
Esse, e outros casos de sucesso, serão estudados na Escola São Paulo de Ciência Avançada em Diplomacia Científica e Diplomacia da Inovação, projeto de ensino desenvolvido pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), que tem como objetivo abordar novas frentes diplomáticas na atualidade.
O professor Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira, coordenador da escola avançada, explicou que a origem do projeto está associada ao setor público: “O projeto surgiu a partir de uma parceria do IRI com o Ministério de Relações Exteriores”. Segundo o professor, o Ministério possui uma “longa tradição de ter, em sua estrutura, representantes diplomáticos culturais e comerciais, mas tem crescido os adidos nas áreas de ciência e tecnologia”, que realizam a diplomacia científica e de inovação.
Esses tipos de diplomacia são mais comuns em países desenvolvidos. “Os Estados Unidos e o Reino Unido são os que mais usam da ciência e tecnologia para se promover no exterior”, comenta a professora Janina Onuki, diretora do IRI. No Brasil, essa área não possui a mesma força, com poucos estudos ou disciplinas sobre a área em universidades brasileiras.
Ao pensar nisso, os pesquisadores apresentaram à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) um projeto de escola avançada, que foi aprovado em 2018. Sua proposta é “colocar em contato diplomatas, empresários e cientistas, no sentido de promover a diplomacia científica e da inovação”, comenta Oliveira.
O curso terá dez dias de duração e contará com 80 participantes, 40 brasileiros e 40 estrangeiros, em sua maioria alunos de pós-graduação. A ideia é que eles tenham uma formação nessa temática, a partir de aulas, estudos de caso, simulações diplomáticas e workshops, com a vinda de pesquisadores estrangeiros renomados na área.
A Escola seguirá duas linhas, uma focada na diplomacia científica, baseada na realização de pesquisas e publicações de artigos por pesquisadores de países diferentes, e outra na diplomacia da inovação, que vai além dessas pesquisas e envolve o desenvolvimento de tecnologias e outras soluções para problemas na atualidade. Em ambas, haverá a apresentação de seus conceitos, teorias e evolução histórica. Depois, são apresentados os casos aplicados em termos de relacionamento bilateral entre países e casos temáticos, voltados para o meio ambiente e outros setores específicos. “O objetivo é fazer um framework, traçar um panoramadessas diplomacias”, conclui Oliveira.
Onuki comenta que a diplomacia científica é a mais clássica e mais conhecida que a de inovação, a qual começou a ganhar espaço nos últimos anos. “É um tema novo, as pessoas começaram a investir nela nos últimos dez anos. No geral, os temas principais na diplomacia são os militares ou econômicos, em que o Brasil tem uma inserção importante. Agora que se começa a usar outra abordagem para estudar a política externa brasileira”, comenta a professora. Nesse aspecto, o ensino de diplomacia científica é algo novo e bastante inovador no Brasil.
A ideia é que a Escola ocorra anualmente e dê origem a uma disciplina de pós-graduação no IRI. Nesse ano, ocorrerá do dia 21 ao 31 de agosto, contando com visitas à Embraer e ao acelerador de partículas Sirius. Entre os palestrantes estrangeiros, estão Eliezer Rabinovich, da Universidade de Jerusalém, envolvido no projeto Sesame, Amba Pande, da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Délhi e Pierre-Bruno Ruffini, da Universidade de Le Havre, na França.
Amâncio de Oliveira destaca que, hoje, “todos os temas de ciência têm uma dimensão internacional”. A conexão entre uma ciência humana (relações internacionais) com ciências exatas e biológicas, porém, “não é algo fácil de ser feito”. Nesse sentido, “a Escola busca colocar essas duas perspectivas em comunicação em prol da difusão científica e possibilidade de cooperação internacional”, comenta o professor. As diplomacias científica e de inovação resultam numa via de mão dupla, em que “a ciência ajuda a diplomacia e a diplomacia ajuda a ciência”.
Para mais informações, acesse o site do projeto: https://innscidsp.com/