Rafael Villa, professor de ciência política, avalia que a prisão de Juan Guaidó parece interessante ao governo de Nicolás Maduro, mas pode transformar o líder oposicionista em mártir.
Para Villa, a situação pode gerar conforto para o governo de Maduro, em relação à oposição e principalmente quanto a Guaidó. O especialista comenta que o governo não se atrevia a tomar uma medida mais drástica, como prender a liderança da oposição, porque “Guaidó havia capitalizado um apoio interno, uma base bastante expressiva da população e também o apoio de muitos países do mundo – mais de 50 países”, mas agora a situação é diferente: “a oposição não está na sua melhor hora” e Maduro concentra esforços para enfraquecê-la ainda mais.
Quanto ao apoio militar da Rússia influenciar o momento de fraqueza da oposição e fortalecimento de Maduro, o professor acredita que “enquanto o governo de Maduro continuar tendo apoio tão importante da China e da Rússia, dificilmente a oposição e Guaidó conseguirão isolar Maduro internacionalmente”. O cientista político comenta que o interesse da Rússia na Venezuela tem relação com o estreitamento de laços políticos, econômicos e militares, que acontece desde a época de Hugo Chávez, quando a Rússia se transformou no principal vendedor de armas para a Venezuela. “Por isso o apoio ao governo de Maduro, como um aliado na América Latina.”
De acordo com Villa, “o governo sabe perfeitamente que, fora Guaidó, não existem lideranças de qualidade dentro da oposição” e portanto a prisão poderia ser interessante. Mas há um contraponto que merece avaliação: “Se Guaidó for preso e conseguir voltar em liberdade, ele pode ser transformado praticamente em um mártir”. Nesse âmbito, “o governo está avaliando se vale a pena encarcerar Guaidó, está tentando enfraquecê-lo sem chegar à decisão extrema de prendê-lo”.
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Fonte: Jornal da USP