Inside Brazil Trade, n. 2, Ano 1

413

Nesta fase decisiva das negociações da Alca era de se esperar um engajamento maior do empresariado brasileiro. Contudo, ao invés de ampliar-se, a participação na Coalizão Empresarial Brasileira vem se reduzindo ou, na melhor das hipóteses, estabilizou-se. Na última reunião da entidade, início de novembro, havia praticamente metade da audiência de reuniões menos decisivas. Além disso, entre os participantes o tom era de clara insatisfação com a interlocução com o governo.

A percepção prevalecente é de que apenas “formalmente” a chancelaria aprimorou o sistema de consulta com empresariado. Na prática, contudo, a teoria tem sido outra. Para ficar num único exemplo: em Trinidad Tobago permitiu-se que um representante do setor privado estive presente na sala de negociações. Algo que, em princípio, ia além do famoso side room à moda mexicana. Contudo, a posição negociadora não fora previamente debatida, o que pode dar a falsa sensação de dever cumprido e canais instituídos.

Diante desse quadro, alguns empresários parecem desalentados e desistiram de participar. Outros ensaiam protesto mais articulado. O contexto lembra os escritos de Hirschman sobre voz e saída, em que compara situações como esta à de um sistema hidráulico, no qual “a deterioração gera pressões da insatisfação, a qual será canalizada para a voz  (reivindicações) ou saída (desengajamento): quanto mais a pressão escapa pela saída, menos ela ficará disponível para impulsionar a voz”. E o que é pior: “a saída tende a solapar a voz”.

A valer os recentes entendimentos entre Brasil e EUA em Washington, e a experiência pregressa do Mercosul, seria crucial que a balança entre as estratégias de saída e voz pendesse para esta. Dada a constatação de que reclamar a posteriori é mais custoso e significativamente menos efetivo.

2003-12 (dez) InsideTrade_n.2, Ano I